Enquanto
estive em Battle Creek, Michigan, em agosto de 1868, sonhei que estava com uma
grande multidão. Parte daquela assembléia apresentou-se para viajar. Tínhamos
carroças abarrotadas. Caminhando nós, a estrada parecia subir. De um lado havia
um profundo precipício; e do outro, uma muralha alta, lisa e branca. ...
À
medida que avançávamos, a estrada se tornava mais estreita e íngreme. Nalguns
lugares parecia tão estreita que concluímos não mais poder viajar com as
carroças carregadas. Desatrelamos os animais para, com parte da bagagem,
prosseguir a viagem a cavalo.
Prosseguindo
nós, o caminho continuava ainda a estreitar-se. Fomos obrigados a andar junto à
muralha, para não cair do caminho estreito ao precipício. Fazendo isso, a
bagagem sobre os cavalos apertava-se de encontro à parede e nos compelia para o
precipício. Receávamos cair e ser despedaçados nas rochas. Retiramos a bagagem
de sobre os cavalos e ela tombou no precipício. Continuamos a cavalo,
receando grandemente que, ao chegar aos lugares mais estreitos do caminho,
perdêssemos o equilíbrio e caíssemos. Em tais ocasiões, uma mão parecia tomar
as rédeas e guiar-nos pelo perigoso caminho.
Tornando-se
o caminho mais estreito, vimos que não mais seria possível ir com segurança
a cavalo; deixamo-los e prosseguimos a pé, em fileira, um seguindo as
pegadas do outro. Neste ponto apareceram pequenas cordas que caíam do alto da
alvíssima muralha; estas foram avidamente agarradas por nós para nos ajudarem a
manter o equilíbrio no caminho.
Enquanto
caminhávamos, a corda prosseguia conosco. O caminho se tornou finalmente tão
estreito que concluímos poder viajar com maior segurança sem o calçado;
assim, descalçamo-nos e fomos certa distância. Logo decidimos que
poderíamos viajar com mais segurança sem meias; estas foram tiradas e viajamos
descalços.
Pensamos
então naqueles que se não haviam acostumado com privações e dificuldades. Onde
estavam esses tais agora? Não se achavam na multidão. Em cada mudança que se
fazia, alguns eram deixados atrás, e apenas permaneciam aqueles que se
haviam acostumado a suportar dificuldades. As privações do caminho apenas
faziam com que estes se tornassem mais ávidos de avançar até ao fim.
Aumentou
o nosso perigo de cair do caminho. Comprimíamos junto à muralha branca, e não
podíamos nem assentar bem os pés no caminho; pois era estreito demais. Apoiamos
então quase todo o nosso peso nas cordas, exclamando: "Temos apoio de
cima! Temos apoio de cima!" As mesmas palavras foram proferidas pela
multidão toda, no caminho estreito.
Estremecíamos
ao ouvir o rumor de folgança e orgia, que pareciam vir do abismo. Ouvimos o
juramento profano, a galhofa banal, e cânticos baixos e vis. Ouvi o cântico de
guerra, e a canção de dança. Ouvi música instrumental e altas gargalhadas de
mistura com pragas, gritos de angústia e pranto amargurado, e ficamos mais
ansiosos do que nunca por nos conservar no caminho estreito e difícil. Grande
parte do tempo éramos obrigados a ficar com todo o nosso peso suspenso das
cordas, que aumentavam de tamanho enquanto prosseguíamos.
Notei
que a bela parede branca estava manchada de sangue. Dava um sentimento de pena
ver-se a parede assim manchada. Este sentimento, porém, não durou senão um
momento, visto que logo achei que tudo era como deveria ser. Os que vêm
seguindo atrás saberão que, antes deles, outros passaram pelo caminho estreito
e difícil, e concluirão que, se outros foram capazes de vencer, eles próprios
poderão fazer o mesmo. E, ao sangrarem seus pés doloridos, não desfalecerão de
desânimo; antes, vendo o sangue na parede, saberão que outros suportaram a
mesma dor.
Chegamos
finalmente a um grande despenhadeiro, onde terminava o nosso caminho. Nada
havia agora para nos guiar os pés, nada em que pudéssemos repousar. Devíamos
então depender inteiramente das cordas, que tinham aumentado até ao tamanho de
nosso corpo. Ali estivemos por algum tempo imersos em perplexidade e angústia.
Indagamos em tímido cochicho: "Em que estará presa a corda?" Meu
esposo estava precisamente diante de mim. Grandes gotas de suor caíam-lhe do
rosto, as veias de seu pescoço e têmporas haviam crescido tanto que atingiam
duas vezes seu volume usual, e seus gemidos abafados e agonizantes eram
ouvidos. O suor caía-me do rosto, e eu experimentava uma angústia tal como
ainda não havia provado. Terrível luta estava diante de nós. Fracassássemos
ali, e todas as dificuldades de nossa jornada teriam sido passadas em vão.
Diante
de nós, do outro lado do precipício, havia um belo campo de relva verde, de
aproximadamente quinze centímetros de altura. Eu não podia ver o Sol; mas raios
de luz, brilhantes e suaves, assemelhando-se ao ouro e à prata fina, rasteavam
o campo. Coisa alguma que eu houvesse visto sobre a Terra poderia comparar-se
em beleza e glória com esse campo. Mas ser-nos-ia possível alcançá-lo? - essa
era a ansiosa indagação. Se a corda se partisse, haveríamos de perecer. Outra
vez em angustioso cochicho, foram sussurradas estas palavras: "Em que
estará presa a corda?"
Por
alguns momentos hesitamos em nos arriscar. Então exclamamos: "Nossa
única esperança está em confiar inteiramente na corda. Dela temos dependido em
todo o caminho difícil. Ela não falhará agora." Ainda estávamos
hesitantes e angustiados. Foram então proferidas estas palavras: "Deus
segura a corda. Não devemos temer." Estas palavras foram então
repetidas por aqueles que estavam atrás de nós, e acompanhadas destas outras: "Ele
não nos faltará agora. Trouxe-nos até aqui em segurança."
Meu
marido deu então um salto por sobre o assustador abismo ao belo campo além. Eu
segui imediatamente. Oh, que sensação de alívio e gratidão para com Deus
experimentamos! Ouvi levantarem-se vozes em louvor triunfal a Deus. Eu era
feliz, perfeitamente feliz.
Despertei,
e vi que, pela ansiedade que experimentara ao passar pelo caminho difícil,
todos os meus nervos pareciam estar a tremer. Esse sonho não necessita de
comentário. Produziu-me uma impressão tal que provavelmente cada minúcia
permanecerá vívida diante de mim enquanto minha memória perdurar.
White,
E.G – Vida e Ensinos, págs. 179-184